terça-feira, 15 de setembro de 2009

Impressões Teatrais ...

"El Último Fuego" (Uruguai)/Teatro Elis Regina - Depois de muitos dias chuvosos, eis que o sol surge em Porto Alegre - para alegria de todos - e lá vamos nós rumo a Usina do Gasômetro assistir a estreia dessa montagem que acompanho, de perto, desde os seus primeiros passos. Em cena temos um texto denso, difícil e atualíssimo da autora alemã Dea Loher. Essa é a primeira montagem em espanhol do texto e depois de uma temporada muito elogiada em Montevideo e de uma tournée de sucesso pela Alemanha, eis que Gabriela Iribarren, Sergio Mautone, Elena Zuasti e "compañeros", sob a direção de Fernando Alonso, aportam no 16º Poa em Cena. A trama gira em torno de um casal (Susanne e Ludwig) que perdeu o filho atropelado por uma policial que perseguia um suposto terrorista que, na verdade, era um ladrão de carros. Susanne e Ludwig cuidam de Rosemarie (Elena Zuasti), mãe de Ludwig, portadora do Mal de Alzheimer e que, por sua falta de memória, faz com que todos sintam a perda dessa criança inunterruptamente. Essa é somente uma das várias histórias que se desenvolvem, ao mesmo tempo, na peça. Nas tramas paralelas temos Karoline (Sofia Etcheverry), amante de Ludwig, que teve câncer de mama; Edna (Sara de los Santos), a policial que é culpada pela morte do menino; Olaf (Sergio Muñoz), um drogado que não se comunica com ninguém e se sente como um animal enjaulado; Peter (Bernardo Trías), companheiro de Olaf, um desocupado que não sabe o que fazer da própria vida; Rabe (Alejandro Campos), um homem que sofre os horrores vividos na guerra e que é a única testemunha do atropelamento e Rosemarie (Elena Zuasti), a bondosa e alegre senhora que por ter Alzheimer se torna um fardo para a nora e o filho. No geral, Dea Loher, nos apresenta uma série de destinos entrelaçados, de pessoas que dividem a mesma casa de cômodos de classe média baixa e nos oferece um retrato minucioso e detalhista de uma sociedade triste, sem esperanças, caótica e violenta. Com todas essas explicações fica fácil compreender, mas nem sempre o público consegue captar todas essas histórias paralelas num espetáculo que altera ação e narração do fato ocorrido, tudo ao mesmo tempo. Só para se ter uma ideia nem os uruguaios conseguiram captar todas as nuances do texto, somente o público alemão reagiu e entendeu tudo. Eu? Bem, eu compreendi o contexto geral, mas tive dúvidas sobre algumas ações porque nada é verbalmente falado, tudo está nas entrelinhas e "hay que estar muy despierto" para não perdê-las. Mas, como tenho a sorte de ter Gabi como amiga pessoal, pude conversar e ver que - bingo! - tô bem na fita. Quero destacar as atuações de Elena Zuasti, emocionante sempre no papel da senhora; Sergio Mautone como esse pai desgraçado, com uma vida medíocre e que por desespero se torna cruel e afoga a mãe e de Gabriela Iribarren, essa mãe desolada, sozinha, em luta constante consigo mesma e que se sente culpada por simplesmente existir. Algumas cenas me pegaram e me dilaceraram de tal forma que quero compartilhá-las com vocês: Rosemarie (Elena) dançando, comemorando o fim da guerra que já acabou há anos; trazendo de presente um jogo memory para o neto já morto e indo banharse sem jamais imaginar que o próprio filho a afogaria; Ludwig (Sergio) dando banho na mãe e a afogando num ato de desespero, medo, angústia e dor e Susanne (Gabriela) perdida na sua dor de não mais existir. Haja coração!
Foto 1: Alejandro Persichetti.
Fotos 2 e 3: Ivo Gonçalves.

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