terça-feira, 2 de março de 2010

... Tragédias Gregas ...


Divina claridade e ar,
vestido lúcido da terra!
Quantos lamentos meus ouvistes,
quantos golpes desferidos em meu peito lacerado
sempre que a noite negra terminava!...
E meu abominado leito
é testemunha das vigílias lacrimosas
sofridas no palácio repugnante
e dos soluços por meu pai desventurado
que o sanguinário Ares não ceifou em terras bárbaras
mas minha mãe e Egisto, parceiro de seu leito,
sacrificaram com seguidos golpes pérfidos
iguais aos de um seguro lenhador que abate árvores!
E não se escuta outro lamento além do meu por isso,
tu, meu pai, tendo sofrido tão injusta e insidiosa morte!
Mas o meu pranto nunca cessará,
nem meus sentidos ais,
enquanto eu contemplar os raios trêmulos
dos astros cintilantes
e esta diurna claridade!
Igual a pássaro que perde os filhos,
Não pararei de lamentar-me
de fazer ouvir meus gritos lancinantes
defronte às portas do palácio de meu pai!
Domínios de Hades e de Perséfone!
Hermes infernal e maldição divina
e vós angústias Fúrias, filhas dos onipotentes deuses,
vós que vedes os mortos sem justiça
e os espoliados até do próprio leito,
vinde, valei-me, vingai a morte de meu pai!
Mandai de volta o meu irmão!
Já não consigo suportar sozinha o peso
das mágoas que me afligem!

por ELECTRA (de Sófocles)

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