quarta-feira, 7 de abril de 2010

... Relato de dias difíceis ...

Moro na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, num bairro chamado Covanca (caminho entre montanhas) divisa entre os municípios de Niterói e São Gonçalo. O que aconteceu por aqui devido ao temporal que caiu durante mais de 14 horas ininterruptamente eu nunca tinha presenciado na vida. Tudo começou mais ou menos às 18h/ 19h da segunda-feira, dia 05/4, com uma chuva muito forte, mas que ninguém podia imaginar que poderia se tornar o que se tornou. Eu e meus vizinhos de parede temos um ritual quando chove forte, ficamos nos falando por telefone para saber se está tudo bem, já que os nossos quintais dão para uma montanha e toda vez que chove somos abençoados com uma grande quantidade de água que jorra da montanha. Até uma certa hora, apesar do nervoso e do medo instalados devido a chuva forte, tudo ia bem, até que lá pela meia-noite meu telefone toca e é a minha vizinha dizendo: "Rosite, meu muro de contenção veio abaixo, soterrou a minha cozinha, eu não tenho como sair de casa!". Pausa. Eu não queria acreditar que isso estava acontecendo. Liguei para a Defesa Civil e consegui que um carro aparecesse por aqui. Nesse interim o mundo desabou, literalmente. Uma parte do morro da Travessa Lucas - na esquina da minha rua - veio abaixo ... as pessoas na rua fugindo, pedindo socorro ... e chovia, chovia, chovia muito ... A Defesa Civil apareceu, mas não entrou na casa da minha vizinha porque o cachorro dela tinha se soltado, mas ela e o filho pularam o muro daqui de casa e fugiram do perigo. E a chuva não parava ... e surge um clarão, um estrondo ... uma outra parte do morro da Travessa Lucas veio abaixo ... e todos os moradores da redondeza acordam, acendem as luzes e vão para a rua para tentar ajudar quem está soterrado ou desabrigado ... graças a Deus as pessoas que estavam soterradas foram salvas com vida ... o colégio aqui em frente virou abrigo, quartel general da Defesa Civil e ponto de donativos. São aproximadamente 130 pessoas desabrigadas somente em 2 quarteirões ... muita gente perdeu tudo ... muita gente que morava aqui na rua (não no morro) a vida toda, fugiu às pressas com o que dava para pegar ... e eu conheço essas pessoas, todo mundo aqui se conhece ... E eu no meio disso tudo? Eu - de lanterna na mão - monitorava a água que jorrava vinda da montanha aqui no meu quintal e rezava pedindo a Deus e a Nossa Senhora que nos protegesse de todos os males ... lá pelas quatro horas da manhã, saí de casa e fui para a casa da minha vizinha da frente para esperar o dia clarear. Demorou mais do que nunca. E quando finalmente amanheceu, o que eu vi não tem como explicar ... era como se uma avalanche tivesse passado e levado uma boa parte do final da Travessa Lucas. Eu nunca tinha visto isso na vida, ninguém tinha visto isso aqui! Ontem foi o dia em que a Defesa Civil vistoriou muitas casas - condenou muitas do morro e da rua! - e veio vistoriar o meu quintal e o da minha vizinha. Desceu um barranco na casa dela e mesmo que tudo esteja bem no meu quintal - graças a Deus! - recebemos a mesma recomendação: "Se chover forte, não fique por aqui." Meus vizinhos pegaram algumas coisas e foram para a casa de parentes, eu fiz uma mochila e fui dormir na casa da família que mora na frente da minha casa. Durante a madrugada choveu muito forte algumas vezes e pelas sete da manhã também. O sol está começando a surgir, mas o tempo permanece instável e temos todos de continuar atentos e vigilantes. Eu permaneço atenta, vigilante e rezando e posso dizer - de cadeira - que a Fé salva! E quero dizer também que aqui no interior a Solidaridade existe, antes de tudo! E dias melhores virão! 



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